Saiba o Por Que a Experiência do Especialista Faz Toda a Diferença frente a um IgM Positivo Para Toxoplasmose na Gravidez
Tradicionalmente, a conduta na maioria dos protocolos é aguardar a confirmação da infecção fetal — que só pode ser feita após 18 semanas — para iniciar o tratamento mais potente com o esquema tríplice. Contudo, novas evidências científicas de boa qualidade questionam essa espera, especialmente em um cenário de alta virulência como o brasileiro. O tratamento mais precoce da Toxoplasmose na Gravidez pode reduzir o risco de sequelas graves [1].
Em meus 25 anos de atuação, e durante todo o período que fui chefe do setor de infecções congênitas na Escola Paulista de Medicina, vivenciei a angústia de diversas famílias solicitando algum tipo de tratamento para evitar sequelas no bebê após umIgM Positivo Para Toxoplasmose.
Mas na Medicina, para mudar condutas tradicionais, é fundamental ter evidência científica de boa qualidade, pensamento inovador, disposição e coragem. A evidência veio em 2018 com o ensaio clínico randomizado francês TOXOGEST [1]. Ele comparou o tratamento precoce (Sulfadiazina, Pirimetamina e Ácido Folínico) versus o tratamento padrão (Espiramicina). Embora o estudo não tenha encontrado diferença na taxa de transmissão (porque as pacientes não concordavam em ser incluídas no grupo Espiramicina), ele revelou um dado de imensa importância: houve uma redução significativa de lesões cerebrais fetais com significância estatística (0% no grupo tratado precocemente versus 8,6% no grupo de tratamento padrão).
Diante de uma infecção materna confirmada por baixa avidez no início da gestação, a decisão de iniciar um tratamento mais potente antes das 20 semanas é complexa, individualizada e deve ser discutida em detalhes com a gestante. A certeza da soroconversão é essencial, não basta o IgM positivo para Toxoplasmose. É nesse momento que a experiência do especialista em medicina fetal e infecções congênitas se torna um diferencial decisivo para ponderar os riscos e benefícios, oferecendo uma estratégia terapêutica que visa a máxima proteção fetal.
Agende sua consulta com o Prof. Dr. Alan Hatanaka!
Meu exame de toxoplasmose deu IgM positivo. O que isso significa?
Primeiramente, calma. Um resultado de IgM positivo para toxoplasmose nem sempre significa uma infecção recente e ativa durante a gravidez. Este é um dos maiores desafios no diagnóstico e uma fonte comum de preocupação desnecessária. Existem várias razões para um resultado de IgM “falso-positivo” ou que não representa risco para o feto:
Persistência do IgM: Os anticorpos IgM podem permanecer detectáveis no sangue por mais de um ano após a infecção inicial. Estudos mostram que até 27% das pessoas mantêm o IgM positivo por dois anos ou mais [2].
Limitações dos Kits: Alguns testes comerciais podem ter uma taxa de resultados falso-positivos que chega a 60% [3].
Reações Cruzadas: Outras infecções, como por Citomegalovírus (CMV) ou Epstein-Barr (vírus da mononucleose), podem causar uma reação cruzada, levando a um resultado de IgM positivo para toxoplasmose [4,5].
Diante de um IgM reagente, a conduta correta não é o pânico, mas a investigação aprofundada com um teste específico [6].
O que é o teste de avidez de IgG e por que ele é tão importante?
Para diferenciar uma infecção antiga de uma recente, a ferramenta mais precisa que temos é o teste de avidez de IgG. Esse exame mede a “força” da ligação entre o anticorpo IgG e o parasita. O racional é simples:
Alta Avidez: Indica que a infecção ocorreu há mais de 4 meses, afastando o risco de infecção durante a gestação atual [7].
Baixa Avidez: Sugere uma infecção mais recente, ocorrida há menos de 16 semanas, necessitando de tratamento e acompanhamento especializado [7].
O teste de avidez de IgG é a ferramenta mais importante para o diagnóstico correto e para evitar intervenções desnecessárias. Um profissional experiente saberá interpretar esses resultados no contexto do seu histórico clínico, oferecendo um diagnóstico preciso e um plano de cuidado seguro.

Agende sua consulta com o Prof. Dr. Alan Hatanaka!
O risco da toxoplasmose é o mesmo em toda a gravidez?
Não. Existe um padrão epidemiológico muito claro e inversamente proporcional: quanto mais cedo na gestação ocorre a infecção, menor a chance de o bebê ser infectado, porém maior a gravidade das possíveis sequelas. Em contrapartida, infecções no final da gravidez têm alta chance de transmissão, mas geralmente resultam em quadros mais leves ou assintomáticos no bebê.
Dados de uma importante revisão sistemática (SYROCOT) ilustram essa relação [8]:
- Infecção antes de 13 semanas: A taxa de transmissão para o feto é baixa (menos de 10%), mas, quando ocorre, o risco de sequelas graves (neurológicas e oftalmológicas) é superior a 60%.
- Infecção com 26 semanas: A taxa de transmissão sobe para cerca de 45%, enquanto o risco de sequelas graves cai para 25%.
- Infecção com 36 semanas: A transmissão é alta (cerca de 70%), mas o risco de o bebê apresentar sequelas graves é inferior a 10%.
A idade gestacional no momento da infecção determina o risco para o feto, e o acompanhamento especializado é crucial para definir a melhor estratégia de tratamento para cada fase.
Por que a toxoplasmose no Brasil é considerada mais grave?
Esta é uma questão fundamental e que justifica uma abordagem mais vigilante no nosso país. A toxoplasmose no Brasil é mais agressiva devido a cepas mais virulentas do parasita. Enquanto na Europa predomina um tipo de Toxoplasma gondii menos agressivo (tipo 2), na América do Sul e no Brasil circulam cepas mais virulentas (tipos 1, 3 e atípicas) [9].
Um estudo comparativo demonstrou essa diferença de forma alarmante: crianças brasileiras com toxoplasmose congênita têm um risco 5 vezes maior de desenvolver lesões oculares graves em comparação com as crianças europeias [10]. Isso reforça a importância da triagem universal recomendada pela FEBRASGO e pelo Ministério da Saúde no Brasil, uma estratégia diferente da adotada em países de baixo risco como EUA e Reino Unido [11,12].
Como é o tratamento da toxoplasmose na gravidez?
O tratamento da Toxoplasmose na Gravidez é um dos melhores exemplos de como a expertise de um obstetra que também é especialista em medicina fetal pode mudar o desfecho. O objetivo não é apenas tratar a mãe, mas principalmente proteger o feto, atuando de forma estratégica e no momento certo. A abordagem é escalonada e baseada nas melhores evidências científicas.
Etapa 1: A Suspeita e o Uso da Espiramicina
Diante de um exame com IgM positivo para Toxoplasmose, o primeiro passo não é o alarme, mas uma análise criteriosa por um especialista para avaliar a possibilidade de um resultado falso-positivo ou de uma infecção antiga. Se, após essa avaliação inicial, a suspeita de uma infecção recente persiste, a Espiramicina é iniciada.
Este medicamento é considerado uma profilaxia inicial. Ele se concentra na placenta, criando uma barreira que dificulta a passagem do parasita para o bebê [13]. A importância dessa ação precoce foi demonstrada em uma metanálise de grande impacto (estudo SYROCOT), que revelou que o tratamento iniciado dentro de 3 semanas da infecção materna reduz em 52% a chance de transmissão fetal (Odds Ratio 0.48) [8]. A Espiramicina é segura, mas é fundamental entender seu papel: ela é uma ponte de segurança, utilizada até que se defina a necessidade do tratamento definitivo, pois sua eficácia para tratar uma infecção já estabelecida no feto é limitada [14].
Etapa 2: O Tratamento Definitivo com Esquema Tríplice
A terapia mais potente é o chamado esquema tríplice, composto por Pirimetamina, Sulfadiazina e Ácido Folínico [15]. Este último é crucial para proteger a gestante dos efeitos colaterais dos outros medicamentos. A grande questão na obstetrícia moderna é: quando iniciar este tratamento?
A conduta tradicional seria aguardar a confirmação da infecção no feto através da amniocentese. No entanto, no cenário brasileiro de alta virulência, uma abordagem mais proativa é justificada. O ensaio clínico randomizado TOXOGEST trouxe uma luz definitiva sobre isso. O estudo mostrou que iniciar o esquema tríplice precocemente, com base apenas na infecção materna confirmada, resultou em uma redução estatisticamente significativa das lesões cerebrais fetais: 0% no grupo de tratamento precoce contra 8,6% no grupo de tratamento padrão [1].
Como especialista que chefiou o setor de infecções congênitas na Escola Paulista de Medicina, esta evidência embasa minha prática de discutir com a gestante a possibilidade de iniciar o esquema tríplice antes das 20 semanas. Essa é uma decisão compartilhada, que pondera os riscos e os imensos benefícios de proteger ativamente o cérebro do bebê.

Agende sua consulta com o Prof. Dr. Alan Hatanaka!
É possível saber se meu bebê foi infectado?
Sim. O diagnóstico da infecção fetal combina tecnologia de ponta com a experiência do examinador.
Amniocentese com PCR: É o método padrão-ouro. Realizado após 18 semanas, o procedimento coleta uma pequena amostra de líquido amniótico para pesquisar o DNA do Toxoplasma por PCR, um exame com especificidade próxima de 100% [16].
Ultrassonografia Morfológica Detalhada: A ultrassonografia é fundamental para buscar sinais que possam sugerir a infecção, como calcificações no cérebro, dilatação dos ventrículos cerebrais ou alterações em outros órgãos [17]. Neste ponto, a importância de um obstetra que também é especialista em medicina fetal e realiza a ultrassonografia de alta qualidade na própria consulta torna-se evidente. A capacidade de integrar os dados clínicos, sorológicos e de imagem em tempo real é um diferencial decisivo para a segurança materno-fetal.
Como posso evitar a toxoplasmose na gravidez?
- Para gestantes suscetíveis (IgG negativo), a prevenção da toxoplasmose é a estratégia mais importante. As medidas são simples e eficazes:
- Cozinhe bem as carnes: A temperatura interna deve ser de pelo menos 66°C [18].
- Congele as carnes: Congelar a carne a -12°C por 48 a 72 horas ou a -20°C por 24 horas inativa os cistos. A temperatura de -12°C é alcançável em congeladores domésticos, sendo uma medida prática e eficaz [19].
- Lave rigorosamente frutas e vegetais: Use água corrente e, se possível, solução de hipoclorito de sódio [20].
- Cuidado com fezes de gatos: Peça para outra pessoa limpar a caixa de areia. Se for inevitável, use luvas, pois os oocistos só se tornam infectantes de 1 a 5 dias após a eliminação [21].
- Use luvas para jardinagem e evite contato direto com a terra [22].
- Beba apenas água tratada (filtrada, fervida ou mineral) [23].
- Higienize bem as mãos e utensílios de cozinha após o contato com carne crua [18].
Um Cuidado Especializado para uma Jornada Tranquila
A jornada da gestação é um período de transformações e expectativas. Receber um diagnóstico como o de toxoplasmose pode parecer assustador, mas com a informação correta e o acompanhamento de um especialista experiente e dedicado, é possível navegar por esse desafio com segurança e confiança. Cada gestação é única, e o cuidado deve ser sempre individualizado, acolhedor e baseado no que há de mais atual na ciência, respeitando suas escolhas e seu protagonismo.
Se você recebeu um exame de IgM Positivo Para Toxoplasmose na Gravidez ou tem dúvidas sobre o seu caso, é fundamental contar com uma orientação especializada e acolhedora. Para uma avaliação detalhada e um plano de cuidado que ofereça segurança e acolhimento, agende sua primeira consulta.
Referências Bibliográficas
- Mandelbrot L, Kieffer F, Sitta R, Laurichesse-Delmas H, Winer N, Mesnard L, et al. Prenatal therapy with pyrimethamine + sulfadiazine vs spiramycin to reduce placental transmission of toxoplasmosis: a multicenter, randomized controlled trial. American Journal of Obstetrics and Gynecology. 2018;219(4):386.e1-386.e9. doi:10.1016/j.ajog.2018.05.031
- Gras L, Gilbert RE, Wallon M, Peyron F, Cortina-Borja M. Duration of the IgM response in women acquiring Toxoplasma gondii during pregnancy: implications for clinical practice and cross-sectional incidence studies. Epidemiology and Infection. 2004;132(3):541-8. doi:10.1017/S0950268803001948
- Wilson M, Remington JS, Clavet C, Varney G, Press C, Ware D. Evaluation of six commercial kits for detection of human immunoglobulin M antibodies to Toxoplasma gondii. Journal of Clinical Microbiology. 1997;35(12):3112-5. doi:10.1128/jcm.35.12.3112-3115.1997
- Klutts JS, Ford BA, Perez NR, Gronowski AM. Evidence-based approach for interpretation of Epstein-Barr virus serological patterns. Journal of Clinical Microbiology. 2009;47(10):3204-10. doi:10.1128/JCM.00164-09
- Berth M, Bosmans E, Van Goethem G, Dierick J, Schoukens W, Verstrepen W. Interference of parvovirus B19 in automated CMV and Toxoplasma IgM assays. Clinical Chemistry and Laboratory Medicine. 2007;45(12):1748-50. doi:10.1515/CCLM.2007.350
- Balfour AH, Prestage ES, Harford JP. Problems associated with the serological diagnosis of Toxoplasma gondii infections in pregnant women. Public Health. 1978;92(5):221-6. doi:10.1016/S0033-3506(78)80073-0
- Petersen E, Vesco G, Villari S, Buffolano W. What do we know about risk factors for infection in humans with Toxoplasma gondii and how can we prevent infections? Zoonoses and Public Health. 2010;57(1):8-17. doi:10.1111/j.1863-2378.2009.01278.x
- Thiébaut R, Leproust S, Chêne G, Gilbert R; SYROCOT Study Group. Effectiveness of prenatal treatment for congenital toxoplasmosis: a meta-analysis of individual patients’ data. The Lancet. 2007;369(9556):115-22. doi:10.1016/S0140-6736(07)60072-5
- Pena HF, Gennari SM, Dubey JP, Su C. Population structure and mouse-virulence of Toxoplasma gondii in Brazil. International Journal for Parasitology. 2008;38(5):561-9. doi:10.1016/j.ijpara.2007.09.004
- Gilbert RE, Freeman K, Lago EG, Bahia-Oliveira LM, Tan HK, Wallon M, et al. Ocular sequelae of congenital toxoplasmosis in Brazil compared with Europe. PLoS Neglected Tropical Diseases. 2008;2(8):e277. doi:10.1371/journal.pntd.0000277
- American College of Obstetricians and Gynecologists. Practice Bulletin No. 151: Cytomegalovirus, parvovirus B19, varicella zoster, and toxoplasmosis in pregnancy. Obstetrics and Gynecology. 2015;125(6):1510-25. doi:10.1097/01.AOG.0000466430.19823.53
- Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Manual de Orientação: Infecções na Gestação. São Paulo: FEBRASGO; 2018.
- Desmonts G, Couvreur J. Congenital toxoplasmosis: a prospective study of 378 pregnancies. New England Journal of Medicine. 1974;290(20):1110-6. doi:10.1056/NEJM197405162902003
- Schoondermark-Van de Ven E, Melchers W, Camps W, Eskes T, Meuwissen J, Galama J. Effectiveness of spiramycin for treatment of congenital Toxoplasma gondii infection in rhesus monkeys. Antimicrobial Agents and Chemotherapy. 1994;38(9):1930-6. doi:10.1128/AAC.38.9.1930
- Cortina-Borja M, Tan HK, Wallon M, Paul M, Prusa A, Buffolano W, et al. Prenatal treatment for serious neurological sequelae of congenital toxoplasmosis: an observational prospective cohort study. PLoS Medicine. 2010;7(10):e1000351. doi:10.1371/journal.pmed.1000351
- Romand S, Wallon M, Franck J, Thulliez P, Peyron F, Dumon H. Prenatal diagnosis using polymerase chain reaction on amniotic fluid for congenital toxoplasmosis. Obstetrics and Gynecology. 2001;97(2):296-300. doi:10.1016/S0029-7844(00)01118-2
- Daffos F, Forestier F, Capella-Pavlovsky M, Thulliez P, Aufrant C, Valenti D, et al. Prenatal management of 746 pregnancies at risk for congenital toxoplasmosis. New England Journal of Medicine. 1988;318(5):271-5. doi:10.1056/NEJM198802043180502
- Cook AJ, Gilbert RE, Buffolano W, Zufferey J, Petersen E, Jenum PA, et al. Sources of Toxoplasma infection in pregnant women: European multicentre case-control study. BMJ. 2000;321(7254):142-7. doi:10.1136/bmj.321.7254.142
- Jones JL, Dubey JP. Foodborne toxoplasmosis. Clinical Infectious Diseases. 2012;55(6):845-51. doi:10.1093/cid/cis508
- Pinto-Ferreira F, Caldart ET, Freire RL, Mitsuka-Breganó R, de Almeida Araújo EJ, Navarro IT. The effect of water source and soil supplementation on parasite contamination in organic vegetable gardens. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. 2019;28(1):141-7. doi:10.1590/S1984-296120180090
- Torrey EF, Yolken RH. Toxoplasma oocysts as a public health problem. Trends in Parasitology. 2013;29(8):380-4. doi:10.1016/j.pt.2013.06.001
- Dubey JP. Strategies to reduce transmission of Toxoplasma gondii to animals and humans. Veterinary Parasitology. 1996;64(1-2):65-70. doi:10.1016/0304-4017(96)00961-2
- Bowie WR, King AS, Werker DH, Isaac-Renton JL, Bell A, Eng SB, et al. Outbreak of toxoplasmosis associated with municipal drinking water. The Lancet. 1997;350(9072):173-7. doi:10.1016/S0140-6736(96)11105-3