Agendar primeira consulta
Fale conosco pelo WhatsApp
Ansiedade na Gravidez: Precisamos Falar Sobre Essa Doença Tão Frequente
Imagem ilustrativa de uma gestante no quarto do bebê - imagem gerada por IA pelo Dr Alan Hatanaka

Muito se fala sobre depressão pós-parto, mas e a ansiedade na gravidez? Saiba mais sobre a doença e como tratar

A gravidez é uma jornada de profundas transformações, onde a alegria da expectativa frequentemente se entrelaça com um universo de novas preocupações. Entender a diferença entre a inquietação natural desse período e um quadro de ansiedade na gravidez é o primeiro passo para garantir que a saúde mental materna seja um pilar para uma gestação segura e um desenvolvimento fetal saudável.

Como Obstetra e especialista em Medicina Fetal com mais de 20 anos de experiência, acompanhando gestações de alto risco e casais em momentos de grande expectativa, percebo que a ansiedade na gravidez é uma das condições mais prevalentes e, muitas vezes, subestimada no consultório. Muitas mulheres sentem que suas angústias são apenas “preocupações normais de mãe”, adiando a busca por ajuda.

É fundamental distinguir: preocupar-se com a saúde do bebê, com as mudanças no corpo e com o parto é perfeitamente natural. No entanto, quando essa preocupação se torna excessiva, persistente e começa a interferir na sua qualidade de vida e no seu sono, estamos diante de um quadro de ansiedade na gravidez que precisa de atenção e cuidado especializado.

Na Obstetrícia Moderna, entendemos que cuidar da gestante é cuidar do binômio mãe-bebê. A sua saúde mental é tão importante quanto a sua saúde física, com impactos diretos no bem-estar fetal. Por isso, este guia foi criado para oferecer um acompanhamento humanizado, baseado nas melhores evidências científicas, e garantir a segurança e a tranquilidade que você e seu bebê merecem.

Quão comum é a ansiedade na gravidez?

A sensação de estar mais ansiosa que o normal na gravidez é extremamente comum. Estudos de alta qualidade mostram que os transtornos de ansiedade afetam uma parcela significativa das mulheres no período perinatal. Uma meta-análise robusta indica que aproximadamente 20,7% das gestantes e puérperas apresentam um transtorno de ansiedade clinicamente diagnosticado [5]. No Brasil, a prevalência da ansiedade na gravidez também é alta, com dados apontando que cerca de 26,8% das grávidas relatam sintomas ansiosos [3].

A intensidade pode variar ao longo da gestação. Embora cada mulher seja única, as pesquisas mostram que a prevalência da ansiedade na gravidez tende a ser maior no terceiro trimestre (42,9%), um período de grande expectativa e proximidade com o parto, mas também é expressiva no primeiro (22,7%) e segundo (17,4%) trimestres [18]. O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é o mais frequente, afetando 1 em cada 5 mulheres neste período [6].

Quais são os principais fatores de risco e sintomas da ansiedade na gravidez?

A ansiedade na gravidez não surge do nada. Geralmente, ela está associada a uma combinação de fatores. Alguns dos gatilhos mais comuns incluem:

  • Histórico pessoal ou familiar de transtornos de ansiedade ou depressão. • Gravidez não planejada. • Experiências obstétricas anteriores difíceis, como perdas gestacionais ou parto prematuro. • Falta de suporte social ou familiar. • Violência doméstica ou estresse socioeconômico [10].

Os sintomas da ansiedade na gravidez vão além da simples preocupação. Eles podem ser psicológicos, como dificuldade de concentração, irritabilidade, insônia e um medo constante relacionado à saúde do bebê, e também físicos, como palpitações, falta de ar, tensão muscular e fadiga [8]. Reconhecer esses sinais é o primeiro passo para buscar ajuda qualificada.

Quais os riscos da ansiedade na gravidez não tratada para a mãe e para o bebê?

Esta é uma das perguntas mais importantes e a resposta reforça a necessidade de um acompanhamento cuidadoso. A ansiedade na gravidez não tratada não é inofensiva. Ela representa um fator de risco real para desfechos adversos.

Uma importante revisão sistemática com meta-análise publicada no Journal of Clinical Psychiatry demonstrou que a ansiedade na gravidez está associada a um aumento significativo no risco de:

  • Parto prematuro: Aumento de 54% nas chances (Odds Ratio [OR] = 1,54) [7].
  • Baixo peso ao nascer: Aumento de 80% nas chances (OR = 1,80) [7].
  • Bebê pequeno para a idade gestacional (PIG): Aumento de 48% nas chances (OR = 1,48) [7].

Além disso, os bebês de mães com ansiedade na gravidez não tratada têm um risco 24% maior de necessitarem de internação em UTI neonatal (OR = 1,24) [7]. A longo prazo, a exposição ao ambiente intrauterino de estresse pode estar ligada a um maior risco de problemas comportamentais na infância [17].

Como tratar a ansiedade na gravidez de forma segura?

Felizmente, existem abordagens seguras e eficazes para tratar a ansiedade na gravidez. A decisão sobre o tratamento deve ser sempre compartilhada entre a gestante e o médico, considerando a intensidade dos sintomas e as preferências da paciente.

A primeira linha de tratamento da ansiedade na gravidez, recomendada pelas principais sociedades de Obstetrícia, como o Colégio Americano (ACOG) e o Instituto Nacional de Excelência em Saúde do Reino Unido (NICE), são as intervenções não farmacológicas [1, 13]. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por exemplo, é altamente eficaz na redução dos sintomas de ansiedade na gravidez, sem apresentar riscos para o bebê [19]. Da mesma forma, intervenções baseadas em mindfulness, que ensinam técnicas de atenção plena e relaxamento, mostram resultados excelentes [20]. A maioria das gestantes (74%) prefere iniciar o tratamento com psicoterapia [2].

O tratamento com medicamentos (antidepressivos ISRS) é seguro na ansiedade na gravidez?

Quando a psicoterapia não é suficiente ou em casos de ansiedade na gravidez moderada a grave, o tratamento farmacológico pode ser necessário. E aqui, é crucial desmistificar o uso de medicamentos. Os benefícios de tratar uma ansiedade na gravidez significativa frequentemente superam os riscos potenciais da medicação.

Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), como o escitalopram e a fluoxetina, são considerados a primeira linha de tratamento medicamentoso da ansiedade na gravidez devido ao seu perfil de segurança relativo [1]. No entanto, é meu dever, como médico, informar de forma transparente sobre os possíveis efeitos.

A exposição aos ISRS, especialmente no final da gestação, está associada a um maior risco de desfechos neonatais transitórios e de curta duração, como:

  • Síndrome de Adaptação Neonatal: Afeta cerca de 30% dos recém-nascidos expostos e se manifesta com irritabilidade, tremores ou dificuldade respiratória leve, geralmente resolvendo-se em 48 horas [9]. O risco de adaptação retardada é cerca de duas vezes maior (OR = 2,14) [7]. • Necessidade de Suporte Respiratório: Embora raro, o risco é maior (OR = 4,04), sendo necessário em 12,9% dos bebês expostos versus 4,2% dos não expostos [7]. • Hipertensão Pulmonar Persistente do Recém-Nascido (HPPRN): Um risco raro, mas grave, com chance aumentada em cerca de duas vezes (OR = 2,1), afetando aproximadamente 3 a cada 1.000 bebês expostos [11].

É fundamental colocar esses números em perspectiva. O risco da ansiedade na gravidez não tratada levar a um parto prematuro (aumento de 54%) ou baixo peso (aumento de 80%) também é muito significativo [7, 15]. Portanto, a decisão é sempre uma análise de risco-benefício individualizada. Estudos de longo prazo, como os do renomado programa Motherisk, são tranquilizadores e não encontraram diferenças no QI ou comportamento de crianças expostas aos ISRS na gestação [14].

A Obstetrícia Moderna: Cuidando da ansiedade na gravidez com Precisão

A complexidade da saúde mental materna e seus impactos fetais, incluindo a ansiedade na gravidez, ilustram perfeitamente a evolução da Obstetrícia. O cuidado pré-natal moderno transcendeu a avaliação materna isolada; ele exige uma vigilância integrada e profunda da saúde fetal.

Isso significa que o seu Obstetra precisa ter um conhecimento aprofundado não apenas sobre gestação de alto risco, mas também dominar a ultrassonografia de alta qualidade realizada no momento da consulta. Um examinador experiente e constantemente atualizado é capaz de avaliar o crescimento fetal, o fluxo sanguíneo nas artérias uterinas e cerebrais do bebê e outros marcadores de bem-estar. Essa avaliação detalhada, combinada a uma abordagem clínica humanizada, é o que garante a máxima segurança materno-fetal.

É nesse cenário que a equipe interdisciplinar — com obstetra, psiquiatra perinatal, psicólogo e pediatra — se torna essencial para o tratamento da ansiedade na gravidez. Juntos, oferecemos um cuidado completo, respeitando o seu protagonismo, estimulando suas escolhas, como o desejo por um parto normal, e apoiando momentos cruciais como o contato pele a pele e a amamentação na primeira hora de vida.

Cuidar da sua ansiedade na gravidez é um ato de amor por você e pelo seu bebê. Não hesite em compartilhar suas angústias e medos. Um pré-natal de excelência é aquele que acolhe, informa e oferece as melhores estratégias para que sua jornada seja a mais serena e segura possível.

Sente que precisa de um acompanhamento que olhe para você e seu bebê de forma completa e humanizada? Agende sua primeira consulta.

Referências Bibliográficas

  1. American College of Obstetricians and Gynecologists. (2023). ACOG Clinical Practice Guideline No. 5: Treatment and management of mental health conditions during pregnancy and postpartum. Obstetrics & Gynecology, 141(6), 1262-1278. DOI: 10.1097/AOG.0000000000005176
  2. Arch, J. J., Dimidjian, S., & Chessick, C. (2014). Are exposure-based cognitive behavioral therapies safe during pregnancy? Archives of Women’s Mental Health, 17(4), 309-320. DOI: 10.1007/s00737-013-0383-5
  3. Biblioteca Virtual em Saúde. (2017). Anxiety in pregnancy: prevalence and associated factors. Rev Esc Enferm USP, 51, e03253. DOI: 10.1590/S1980-220X2016048803253
  4. Dennis, C. L., Falah-Hassani, K., & Shiri, R. (2017). Prevalence of antenatal and postnatal anxiety: systematic review and meta-analysis. British Journal of Psychiatry, 210(5), 315-323. DOI: 10.1192/bjp.bp.116.187179
  5. Fairbrother, N., Janssen, P., Antony, M. M., Tucker, E., & Young, A. H. (2016). Perinatal anxiety disorder prevalence and incidence. Journal of Affective Disorders, 200, 148-155. DOI: 10.1016/j.jad.2015.12.082
  6. Fawcett, E. J., Fairbrother, N., Cox, M. L., White, I. R., & Fawcett, J. M. (2019). The prevalence of anxiety disorders during pregnancy and the postpartum period: a multivariate Bayesian meta-analysis. Journal of Clinical Psychiatry, 80(4), 18r12527. DOI: 10.4088/JCP.18r12527
  7. Grigoriadis, S., Graves, L., Peer, M., Mamisashvili, L., Tomlinson, G., Vigod, S. N., et al. (2018). Maternal anxiety during pregnancy and the association with adverse perinatal outcomes: systematic review and meta-analysis. Journal of Clinical Psychiatry, 79(5), 17r12011. DOI: 10.4088/JCP.17r12011
  8. Howard, L. M., Molyneaux, E., Dennis, C. L., Rochat, T., Stein, A., & Milgrom, J. (2014). Non-psychotic mental disorders in the perinatal period. Lancet, 384(9956), 1775-1788. DOI: 10.1016/S0140-6736(14)61276-9
  9. Huybrechts, K. F., Bateman, B. T., Palmsten, K., Desai, R. J., Patorno, E., Gopalakrishnan, C., et al. (2015). Antidepressant use late in pregnancy and risk of persistent pulmonary hypertension of the newborn. JAMA, 313(21), 2142-2151. DOI: 10.1001/jama.2015.5605
  10. Leach, L. S., Poyser, C., & Fairweather-Schmidt, K. (2017). Maternal perinatal anxiety: a review of prevalence and correlates. Clinical Psychologist, 21(1), 4-19. DOI: 10.1111/cp.12058
  11. Masarwa, R., Levine, H., Gorelik, E., Reif, S., Perlman, A., & Matok, I. (2019). Prenatal exposure to selective serotonin reuptake inhibitors and serotonin norepinephrine reuptake inhibitors and risk for persistent pulmonary hypertension of the newborn: a systematic review, meta-analysis, and network meta-analysis. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 220(1), 57.e1-57.e13. DOI: 10.1016/j.ajog.2018.09.007
  12. Mount Sinai Health System. (2022). Pregnancy and antidepressants: should you avoid taking them? New York: Mount Sinai.
  13. National Institute for Health and Care Excellence. (2020). Antenatal and postnatal mental health: clinical management and service guidance. NICE guideline CG192. London: NICE.
  14. Nulman, I., Rovet, J., Stewart, D. E., Wolpin, J., Pace-Asciak, P., Shuhaiber, S., et al. (2002). Child development following exposure to tricyclic antidepressants or fluoxetine throughout fetal life: a prospective, controlled study. American Journal of Psychiatry, 159(11), 1889-1895. DOI: 10.1176/appi.ajp.159.11.1889
  15. Putri, A. S., Wungu, C. D. K., Mulyantari, N. K., Marcella, E., & Alkaff, F. F. (2021). Meta-analysis: the effect of anxiety during pregnancy on the risk of premature birth and low birth weight in infants. Journal of Maternal and Child Health, 6(5), 567-577. DOI: 10.26911/thejmch.2021.06.05.08
  16. Society for Maternal-Fetal Medicine. (2023). SMFM Special Report: Mental health screening during pregnancy. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 229(5), B2-B14. DOI: 10.1016/j.ajog.2023.06.023
  17. Stein, A., Pearson, R. M., Goodman, S. H., Rapa, E., Rahman, A., McCallum, M., et al. (2014). Effects of perinatal mental health on the child, caregiver, and family. Lancet, 384(9956), 1800-1811. DOI: 10.1016/S0140-6736(14)61277-0
  18. Uguz, F. (2017). A study of antenatal anxiety: comparison across trimesters. International Journal of Reproduction, Contraception, Obstetrics and Gynecology, 6(5), 1810-1813. DOI: 10.18203/2320-1770.ijrcog20171504
  19. Uguz, F., & Ak, M. (2021). Cognitive-behavioral therapy in pregnant women with generalized anxiety disorder: a retrospective cohort study on therapeutic efficacy, gestational age and birth weight. Revista Brasileira de Psiquiatria, 43(1), 61-65. DOI: 10.1590/1516-4446-2020-0904
  20. Woolhouse, H., Mercuri, K., Judd, F., & Brown, S. J. (2020). Antenatal mindfulness intervention to reduce depression, anxiety and stress: a pilot randomised controlled trial of the MindBabyBody program in an Australian tertiary maternity hospital. BMC Pregnancy and Childbirth, 20(1), 201. DOI: 10.1186/s12884-020-02844-x