Os exames laboratoriais e de ultrassom são fundamentais para detectar precocemente condições que podem prejudicar a mãe e o bebê
Fazer o pré-natal é um direito básico da mulher e da criança. Ele tem o objetivo de promover o desenvolvimento saudável do bebê e garantir a saúde materna através de medidas preventivas, que incluem avaliações clínicas periódicas e realização de exames no pré-natal1-4.
O acompanhamento durante o pré-natal de baixo risco, segundo o Ministério da Saúde, deve ser periódico, com consultas mensais até 28 semanas, quinzenais até 36 semanas e semanais até o nascimento1. Durante o pré-natal de alto risco, as consultas devem ser mais frequentes, assim como os exames no pré-natal, que deverão se adequar para cada mulher5.
Além da realização dos exames de rotina, que aqui serão descritos, a gestante deve ser avaliada individualmente. A partir dessa consulta, o obstetra poderá solicitar outros exames.
É importante observar que as recomendações do Ministério da Saúde divergem das da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e de entidades internacionais, como a International Society of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology (ISUOG), American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG)2,3,6-8. Essa diferença gera uma série de dúvidas nas gestantes; por isso, vamos explicar aqui para que servem os principais exames do pré-natal.
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Importância da realização de exames no pré-natal
Os exames no pré-natal são essenciais para avaliar a saúde da gestante e do bebê. Permitem detectar precocemente condições que podem afetar o bem-estar de ambos, como anemia, infecções, diabetes, pré-eclâmpsia, malformações e parto prematuro.
Um pré-natal adequado exige a realização de exames periódicos, vacinações, avaliação nutricional e de enfermagem, fisioterapia e exercícios físicos. A periodicidade vai variar de acordo com cada entidade e explicitaremos à frente.
Quais são os principais exames no pré-natal?
Os principais exames no pré-natal incluem avaliações laboratoriais e de imagem que acompanham o desenvolvimento do bebê e a saúde da mãe. Dividiremos os exames nos 3 trimestres da gravidez:
Primeiro trimestre
Exames laboratoriais1,2,4,9,10
- Hemograma completo: avalia a possibilidade de anemia, infecções e neoplasias;
- Tipagem sanguínea e fator RH: importante para detectar incompatibilidades sanguíneas (gestantes RH negativas com bebê RH positivo merecem especial atenção para possibilidade de uma doença chamada aloimunização RH);
- Glicemia de jejum: rastreia diabetes gestacional;
- TSH e T4 livre: exames para detecção de doenças da tireoide, como hipotireoidismo e hipertireoidismo. Essas alterações podem causar parto prematuro, abortamento, óbito fetal e algumas malformações. Embora o Ministério da Saúde não recomende rotineiramente, a Febrasgo o recomenda e o Prof. Dr. Alan Hatanaka considera esse rastreamento indispensável;
- Sorologias: sífilis, HIV, hepatites B e C, toxoplasmose e citomegalovírus;
- Urina tipo I e urocultura: identificam infecções urinárias e alterações da função renal;
- Papanicolaou: ao contrário do que se imagina, a escrita correta é Papanicolaou (com “o” antes do “u”), pois trata-se do nome da coloração usada pelo método. Deve ser realizada seguindo os critérios de rastreamento para a idade da mulher.
Ultrassonografias6,11–13
- Ultrassom obstétrico transvaginal: confirma a gestação, datação e viabilidade fetal. Deve ser realizado antes de 10 semanas, embora não exista nenhum prejuízo em ser realizado após esse período pela via vaginal;
- Ultrassom morfológico de primeiro trimestre com dopplervelocimetria colorida: realizado com 12 semanas por via abdominal ou vaginal, avalia detalhadamente a anatomia fetal, determinando o risco das síndromes de Down, Edwards e Patau. Quando associamos o Doppler das artérias uterinas, podemos determinar o risco de pré-eclâmpsia. Em pacientes de alto risco, o uso de aspirina reduz o risco de pré-eclâmpsia.
Exames opcionais
Alguns exames no pré-natal não fazem parte da recomendação do Ministério da Saúde ou da Febrasgo, mas podem ser feitos, individualizando cada caso. Seguem alguns exemplos:
- NIPT (non-invasive prenatal test): realizado a partir de 10 semanas, avalia o DNA fetal vindo da placenta. Tem sensibilidade de cerca de 99% para detecção de síndrome de Down, podendo também rastrear as síndromes de Edwards, Patau e Turner. O NIPT expandido tem capacidade de detecção de microdeleções, mas até o momento o número de falsos positivos e de problemas técnicos na sua realização não demonstram custo-benefício em nosso país14-17;
- Ferritina: valores abaixo de 30µg/L estão associados à anemia e elevam a sensibilidade da hemoglobina18;
- Vitamina D: publicação da biblioteca Cochrane de julho de 2024 demonstrou que a suplementação rotineira com vitamina D não traz benefícios significativos à mãe e ao bebê, salvo por uma redução na chance de hemorragia pós-parto (entretanto, com evidência fraca, por ser oriunda de um único estudo). Assim, a suplementação deve ser realizada em casos de deficiência, justificando-se sua dosagem;
- PCR para clamídia: embora seja um exame mandatório em mulheres com menos de 30 anos pelo Ministério da Saúde, devemos lembrar que esse é um método caro e o tratamento da doença na gestação não reduz o risco de parto prematuro. Embora seja importante tratar essa IST, o Prof. Dr. Alan Hatanaka acredita que o seu rastreamento seria amplamente justificado numa consulta pré-concepcional, pois evitaria o parto prematuro. Entretanto, a realização universal na gestação não mostra custo-benefício para nenhuma entidade internacional;
- Ultrassonografia das mamas: recomendada para qualquer mulher que tenha alterações no exame físico, queixas mamárias ou necessidade de rastreamento do câncer de mama pela idade;
- Repetição das sorologias de toxoplasmose e citomegalovírus: em casos de infecções na gestação, o tratamento de ambas as doenças reduz o risco de malformações fetais. Entretanto, é fundamental saber que isso só ocorre quando o tratamento é iniciado antes de 20 semanas. Assim, o Prof. Dr. Alan Hatanaka preconiza que sejam repetidas ambas as sorologias antes de 20 semanas, a cada 4 semanas, apenas nas pacientes com IgG e IgM não reagentes.
Segundo trimestre
Exames laboratoriais
- Curva glicêmica: realizada ao redor de 26 semanas, serve para detecção de diabetes gestacional. A mulher dosa a glicemia de jejum, recebe 75g de glicose em forma de um líquido e dosa a glicemia 1 hora após e 2 horas após. Qualquer valor acima da referência (jejum: <92mg/dL, 1h: < 180mg/dL e 2h: < 153 mg/dL) indica diabetes gestacional. Não deve ser feita em quem já tem diagnóstico de diabetes ou em quem tem cirurgia bariátrica. Essa data é escolhida em função do aumento de um hormônio que causa resistência à insulina, justamente nessa idade gestacional, chamado de hormônio lactogênio placentário.
Ultrassonografia
- Ultrassonografia morfológica de segundo trimestre com dopplervelocimetria colorida: exame dedicado a avaliar detalhadamente a anatomia fetal, podendo detectar malformações que não são visíveis com 12 semanas, principalmente alterações cerebrais, faciais e cardíacas19–21;
- Ultrassonografia transvaginal para avaliação do colo uterino8,22-25: a avaliação do comprimento do colo e da presença do sinal do “sludge” é importante, pois o uso de progesterona em caso de colo curto e o uso de antibiótico na presença do sludge (só em colo curto ou alto risco) reduzem o risco de parto prematuro;
- Ecocardiografia fetal: exame para avaliar a anatomia cardíaca fetal, que deve ser feita por profissional muito especializado. Trata-se de um exame caro, com poucos profissionais que o realizam26. A anatomia cardíaca pode ser vista na ultrassonografia morfológica, junto com outras malformações21.
Exames opcionais
- Controle dos exames laboratoriais: embora não seja preconizado pelo Ministério da Saúde, as entidades internacionais, a Febrasgo e o Prof. Dr. Alan Hatanaka recomendam o controle no segundo trimestre de todos os exames clínicos, como hemograma, glicemia de jejum, TSH, urina 1 e urocultura, bem como das sorologias suscetíveis.
Terceiro trimestre
Exames laboratoriais
- Sorologias de terceiro trimestre: HIV, sífilis, toxoplasmose e citomegalovírus;
- Controle de exames: hemograma, urina 1 e urocultura e TSH;
- Cultura vaginal e anal para estreptococo do grupo B: feita entre 36 e 37 semanas, a presença da bactéria indica tratamento com antibiótico (penicilina ou ampicilina) durante o trabalho de parto. Bebês que são infectados por essa bactéria podem evoluir com uma infecção muito grave logo após o nascimento.
Ultrassonografia
- Ultrassonografia obstétrica com dopplervelocimetria colorida: a realização desse exame é fundamental para o controle do crescimento e da vitalidade fetal. Estudos da Fetal Medicine Foundation (Londres) sugerem que a realização do exame ao redor de 36 semanas reduz o risco de óbito perinatal, deixando clara a sua importância7,27,28.
Por que repetir os exames?
Como vimos nas explicações acima, é muito importante repetir certos exames no pré-natal, principalmente para pesquisa de anemia, diabetes e infecções como toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis e HIV. Essas doenças são potencialmente perigosas para a mãe e para o bebê e podem aparecer ao longo da gestação.
Diretrizes de organizações como a ISUOG, a ACOG e a RCOG enfatizam a importância de um acompanhamento contínuo e personalizado, adaptando o pré-natal às necessidades individuais de cada gestante. Essa abordagem permite intervenções oportunas e aumenta as chances de uma gestação saudável.
Os exames no pré-natal são essenciais para a identificação precoce de doenças e a implementação de medidas preventivas eficazes. É fundamental que sejam interpretados em conjunto com uma boa anamnese e exame clínico. Para isso, estar com um profissional experiente, especialista em medicina fetal e que faça os exames durante a consulta pode trazer maior segurança, acolhimento e assertividade diagnóstica.
A equipe do Prof. Alan Hatanaka está aguardando o seu contato para iniciar a jornada de uma gravidez saudável e segura.
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