Cuidados obstétricos e acompanhamento especializado podem ajudar a reduzir os riscos de prematuridade recorrente
O parto prematuro é definido como o nascimento do bebê antes de a gestação completar 37 semanas, o que corresponde a cerca de 10,2% dos partos no Brasil, segundo dados recentes do Datasus 1. O percentual brasileiro é muito superior aos 6,8% de países do Leste Asiático e da Oceania, bem como dos 7,8% da América do Norte, Europa, Ásia Central e Austrália 2. Ter um parto prematuro é muito grave para criança e para seus pais, mas ainda mais preocupante é a prematuridade recorrente.
Mulheres que tiveram um parto prematuro têm maior risco de ter um novo episódio de prematuridade. Por esse motivo, é fundamental que o casal passe por uma avaliação no período interpartal, visto que a maioria dos casos de nascimento prematuro são preveníveis.

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O que é a prematuridade recorrente?
A prematuridade recorrente ocorre quando uma mulher tem história de pelo menos dois partos prematuros (antes de completar as 37 semanas de gestação). Quanto mais precoce ocorre o nascimento, maior o risco de prematuridade recorrente. Uma mulher que teve um bebê com menos de 32 semanas tem 6% de risco de um novo nascimento antes das 32 semanas e 23% de risco de nascimento antes de 37 semanas de 23%. Pacientes que tiveram o parto entre 32 e 36 semanas têm 1,3% de risco de nascimento antes das 32 semanas de 1,3% e 14% de risco de parto antes de 37 semanas de 14% 3.
Quais as causas da prematuridade recorrente?
A prematuridade recorrente tem origem multifatorial. O Prof. Dr. Alan Hatanaka publicou importante trabalho para Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) demonstrando os principais fatores de risco do parto prematuro espontâneo, sendo que muitos são responsáveis pela prematuridade recorrente 4. Alguns deles são:
- Infecções;
- Insuficiência Istmo Cervical;
- Malformações uterinas (Útero septado, subseptado, bicorno e didelfos);
- Leiomioma;
- Doenças clínicas maternas (anemia, obesidade, desnutrição, hipotireoidismo, hipertireoidismo, doenças autoimunes, hipertensão, diabetes, dentre outras);
- Hábitos maternos (tabagismo, alcoolismo, uso de drogas ilícitas, medicamentos, sedentarismo, estresse e alimentação inadequada).
É fundamental compreender que, além da prematuridade espontânea, muitos casos são decorrentes da necessidade de interrupção da gestação por causas maternas (pré-eclâmpsia, hipertensão, doenças autoimunes, câncer) ou por causas fetais (restrição de crescimento, alteração da vitalidade fetal, infecções e malformações). Tanto a prematuridade espontânea quanto aquela por decisão médica são preveníveis, mas a prevenção deve começar antes de uma próxima gestação.
Quais os riscos da prematuridade recorrente?
A prematuridade é a principal causa de mortalidade neonatal no Brasil5. Ela pode causar graves sequelas a longo prazo, além de traumas emocionais e psiquiátricos nos pais, e na própria criança. Quando ocorre a prematuridade recorrente, esse quadro é ainda mais sensível.
Principais complicações para o bebê
Sabe-se que, quanto mais precoce o nascimento, maior a gravidade e o risco para o bebê 6. As principais complicações podem ser divididas em consequências de curto e longo prazo. Dentre as consequências de curto prazo, as principais são:
- Hemorragia Intraventricular;
- Enterocolite necrotizante;
- Hipertensão pulmonar persistente;
- Convulsões;
- Encefalopatia hipóxico-isquêmica;
- Enterocolite necrosante estágio II/III
- Displasia broncopulmonar
- Síndrome do desconforto respiratório;
- Hipotensão;
- Hiperbilirrubinemia;
- Óbito neonatal.
Quando consideramos as sequelas de longo prazo, devemos focar no atraso do neurodesenvolvimento 7, que incluem:
- Atraso cognitivo: para defini-lo, habitualmente é utilizada uma ferramenta chamada Escala de Bayley. É considerado atraso cognitivo grave a pontuação ≤ 70 e moderado ≤ 85 (para moderado);
- Paralisia cerebral moderada a grave, definida como uma pontuação ≥ 2 no Sistema de Classificação da Função Motora Grossa;
- Deficiência auditiva bilateral que requer amplificação;
- Deficiência visual grave com acuidade visual de 20/200 ou menos no olho com melhor visão com a melhor correção convencional;
- Alterações comportamentais, psicológicas e funcionais, como transtornos psiquiátricos, déficit de atenção e autismo.
Assim como nas sequelas de curto prazo, para as de longo prazo a idade gestacional de nascimento importa. Enquanto bebês que nascem entre 34 e 37 semanas têm 0,5% de risco de paralisia cerebral, aqueles que nascem entre 32 e 34 semanas, risco de 3%. Entre 28 e 32 semanas, o risco de paralisia cerebral salta para 8% e, abaixo de 28 semanas, passa a 19% 8.
É possível evitar a prematuridade recorrente?
A prevenção da prematuridade recorrente deve focar na causa do nascimento prematuro. Como já foi citado acima, a prematuridade pode ser espontânea ou por decisão médica. É fundamental que a pesquisa da causa e o tratamento sejam instituídos antes de uma nova gestação, na chamada consulta pré-concepcional 4.
A pesquisa e tratamento de infecções genitais, são medidas essenciais e de fácil realização. Sabe-se que a infecção por bactérias como Clamídia, Micoplasma, Ureaplasma e Fusobacterium, constitui numa das principais causas de prematuridade. Tratar antes da gestação reduz o risco de parto prematuro, mas o diagnóstico e tratamento na gravidez, trata apenas a doença, podendo causar um quadro de prematuridade recorrente.
A pesquisa da insuficiência istmocervical é uma das causas mais frequentes e devastadoras de prematuridade recorrente. A investigação deve começar por uma cuidadosa anamnese, exame físico e ultrassonografia tridimensional. Podem ser necessários exames mais complexos como histerossalpingografia e histeroscopia, que também poderão investigar as malformações uterinas e leiomioma. Diagnosticada a insuficiência istmocervical, a cerclagem deve ser indicada entre 12 e 16 semanas, mas deve ser feita por um cirurgião com ampla experiência.
As doenças clínicas são causa de prematuridade recorrente com enorme frequência, sendo a obesidade uma das principais causas. O peso elevado reflete, inevitavelmente, um estilo de vida pouco saudável e é uma das principais causas da pré-eclâmpsia. Essa doença consiste no aumento da pressão na gestação na sua forma mais grave. Por causar riscos à mãe e ao bebê, frequentemente gera uma prematuridade por decisão médica. Muitas vezes, essa prematuridade é extrema. Assim, é essencial que a mulher mude seu estilo de vida e perca peso antes de engravidar 4. Após estar gestante, nossas ferramentas preventivas são muito mais limitadas 9.
Por fim, para evitar a prematuridade recorrente, é fundamental analisar todas as doenças clínicas causadoras de prematuridade e verificar se algum hábito de vida seja relevante.
No Brasil, a prematuridade é responsável por 31% das mortes neonatais, sendo a maior causa de mortalidade infantil em nosso país 5. Mas números não refletem o significado da perda de um filho. As sequelas psicológicas para a família são devastadoras, e são ainda mais graves quando falamos de prematuridade recorrente.
O atendimento a essas mulheres deve começar com o adequado acolhimento, e deve ser totalmente individualizado. O conhecimento das causas de prematuridade e as possibilidades de tratamento devem ser discutidos com calma, com clareza, respeitando os limites emocionais de cada casal. Para isso, é essencial que a mulher realize uma consulta com um especialista antes de uma nova gestação.
A equipe do Prof. Alan Hatanaka está aguardando seu contato para iniciar a jornada de uma gravidez saudável e segura.
Referências Bibliográficas
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- Manuck TA, Rice MM, Bailit JL, et al. Preterm neonatal morbidity and mortality by gestational age: a contemporary cohort. Am J Obstet Gynecol. 2016;215(1):103.e1-103.e14. doi:10.1016/j.ajog.2016.01.004
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